Reforço ou Suborno?

Aprenda como estimular bons comportamentos nos seus filhos de maneira adequada e sem sofrimento!

Leia a tirinha a seguir (clique nela para ampliar):




Na tirinha apresentada acima, Calvin sugere ao pai um incentivo diferente para seu comportamento de estudar. Tal incentivo é chamado pelos analistas do comportamento de reforçador arbitrário, pois é uma consequência artificial, diferente daquela que acontece naturalmente após os bons comportamentos. Por exemplo, ao escovar os dentes a criança teria como consequência reforçadora negativa, os dentes limpos. Este evento seria categorizado como um reforçador natural, pois é algo que acontece naturalmente após este tipo de comportamento. Porém, se a cada vez que a criança escova os dentes, ela ganha um brinde dos pais, este seria um exemplo de reforçador arbitrário, pois é algo que alguém teve de introduzir artificialmente para a modelagem de um comportamento (Moreira e Medeiros, 2007).

Quando se trata de educação infantil, muitos pais têm dúvida se a utilização de reforços arbitrários seria adequada para o desenvolvimento das habilidades nos filhos. No exemplo citado acima, o pai de Calvin analisa a sugestão do filho como algo inadequado para a educação dele, pois estaria motivando uma postura capitalista na criança, “subornando-a” para algo que já seria de sua responsabilidade natural. 

Segundo Weber (2009), crianças de 5 a 10 anos (faixa etária do personagem Calvin) “as crianças querem imensamente desenvolver o seu senso de competência e precisam muito mais de apoio e incentivo dos pais” (p. 54). Nessa idade, muito provavelmente, elas ainda não tiveram treinamento social suficiente para desenvolverem repertórios de responsabilidade com seus afazeres, como o que se exige nos estudos, por exemplo. Nesse caso, a utilização de reforçadores arbitrários poderia ser útil para a modelagem de comportamentos por aproximações sucessivas. No entanto, tais reforçadores, devem ser muito bem aplicados (Weber, 2009).


Na página deste blog, “Dinâmicas, Técnicas de Intervenção e Produtos”, apresento uma interessante ferramenta, muito utilizada na clínica comportamental, que se chama Tabela de Bons Comportamentos, um tipo de economia de fichas. Em uma tabela, feita no papel ou comprada pronta, os pais descrevem alguns comportamentos desejáveis e os dias da semana. Cada vez que a criança conseguir realizar alguma atividade ela ganha um ponto. Se conseguir ganhar todos os pontos no final do dia, ela ganha um prêmio e se realizar todas as atividades durante toda semana, ela tem direito a um prêmio maior. A seguir está um exemplo de como a tabela pode ser realizada (para mais detalhes clique aqui, ou leia um excelente artigo sobre o tema neste link). 


Assim como na vida cotidiana de um adulto, que trabalha para receber seu dinheiro no fim do mês, atividades cotidianas como escovar os dentes, arrumar o quarto, fazer a tarefa da escola, lavar a louça; podem ser consequenciadas com reforçadores arbitrários e terem um desenvolvimento bem mais rápido, menos aversivo e mais prazeroso, tanto para a criança quanto para os pais.

Para um resultado adequado, este tipo de intervenção deve ser muito bem realizada, com extrema sistematicidade e empenho de toda a família, para não contradizer nenhuma regra. Nesses casos, a consulta de um psicólogo possibilita uma orientação mais acertada, além de desenvolver outras habilidades importantes nos pais e na criança com este tipo de demanda. Na terapia, a criança pode aprender a se observar melhor, a se expressar e se comunicar com os pais de maneira assertiva e os pais, por outro lado, podem aprender, de forma personalizada, a estimular adequadamente seus filhos. De qualquer forma, cito a seguir algumas regras imprescindíveis para realizar uma boa Tabela de Bons Comportamentos.



Orientações importantes

1) Cada vez que a criança cumprir uma tarefa descrita na tabela ela ganha uma carinha feliz.

2) Ao fim do dia, se ela completar todas as tarefas ela pode ter direito a um brinde ou uma atividade que para ela é prazerosa. 

3) No começo do procedimento, é interessante ser pouco rigoroso e dar mais oportunidades de a crianças ganhar carinhas, o que torna a tabela mais reforçadora.

4) É importante ressaltar que a Tabela de Bons Comportamentos deve ser utilizada sempre como algo positivo e nunca como punição. Ou seja, evitem falas como “olha que eu vou tirar uma carinha sua, hein!” ou “se fizer isso de novo não vai ganhar o brinde!”

5) A criança nunca perde uma carinha, só ganha. Caso ela não realize a tarefa, nada é dito, apenas ela ficará sem o incentivo no fim do dia.

6) Não invente regras novas ou aumente desproporcionalmente as regras já estabelecidas. Regra é regra, senão vira bagunça e os pais além de perderem a credibilidade, perdem a autoridade.

7) Se a criança conseguir completar toda a tabela no fim da semana, ela pode ter direito a algo de mais valor, como uma revista, um passeio, uma atividade diferente.

8) Com crianças de 4 a 10 anos, dê preferência para reforços como atividades ou brincadeiras, em vez de objetos de valor, ou dinheiro (pois algumas crianças ainda não compreendem o valor destes objetos) e para não ficar muito oneroso para a família;

9) Porém, para adolescentes que já recebem mesada, o uso dinheiro pode ser mais efetivo, mas a quantia financeira deve ser sempre contingente a uma atitude responsável do jovem, semelhante ao que acontece no mercado de trabalho;

10) Invente coisas novas e agradáveis, como ir ao cinema ou uma brincadeira em família e aproveite para criar momentos de união familiar;

11) Ressalte sempre como a criança é um bom(boa) menino(a), capaz e competente. O reforço social é o mais importante de tudo! Use falas como “Parabéns!”, “Muito bem!”, “Isso mesmo, gostei de ver!”, “Nossa, filho, como você está educado hoje!” e etc.


Dicas de possíveis reforçadores:

Para o dia a dia: chocolates, balas, alugar um filme, ficar assistindo TV até mais tarde, jogar no computador até mais tarde, revistas mais baratas, uma comida de preferência, entre outros.

Para o fim de semana: ir ao cinema, ir ao clube, passear no parque, camisa de time, roupa nova, revistas, um DVD novo e etc. 


A grande maravilha da tecnologia comportamental que usufruímos na atualidade é que, já conseguimos compreender e dominar tão bem as leis científicas do comportamento, que podemos prever e controlar parcialmente o desenvolvimento de certas habilidades, considerando, é claro, as particularidades de cada indivíduo, que carrega consigo sempre uma história particular de vida.

Através da compreensão dos diferentes tipos de esquemas de reforçamento, sabemos que a intervenção citada neste artigo caracteriza-se por um esquema de razão fixa, no qual as respostas do sujeito são usadas como critério para liberação do reforço, ou seja, uma quantidade fixa de respostas é necessária para que o reforço seja liberado. O padrão de respostas geralmente atingido por esse esquema é uma alta taxa de respostas, visto que quanto mais respostas o sujeito emitir, mais reforços ele terá (Catania, 1999).

Assim, concluímos que, ao compreender o desenvolvimento infantil e os princípios do comportamento, a educação dos filhos pode sempre ser melhor desenvolvida, facilitando a vida dos pais e de todos os membros da família. Consulte um psicólogo comportamental!



Referências Bibliográficas

Catania, C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre. Ed: Artmed.

Moreira, M. B. & Medeiros, C. A. (2007), Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre. Ed: Artmend.

Weber, L. (2009). Eduque com Carinho: equilíbrio entre amor e limites – para pais. Editora Juruá: Curitiba. 




Comentários

  1. Estou acompanhando o seu blog e estou gostando muito. Não sou da área, mas leio sobre comportamentalismo por conta própria, porque me interessei pelo assunto. Parabéns!

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  2. Meus parabéns pelo seu trabalho! Entendo ser de suma importância para auxiliar a todos que procuram respostas para assuntos tao atuais como esses que sao tratado por vc.

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