Por que nos comportamos da forma como o fazemos?
Essa
não é uma questão recente na história da humanidade, talvez esteja presente
entre nós desde que o homem passou a ter consciência de si como um ser no
mundo. A despeito de muitas explicações mitológicas e filosóficas que já foram
apresentadas ao longo dessa trajetória, a ciência conseguiu apresentar ao mundo
conceitos concretos sobre o que, ainda hoje, é chamado por muitos de
“personalidade”. Mas afinal, o que define
as diferenças comportamentais entre as pessoas? Para isso, precisamos entender
um pouco sobre os princípios comportamentais básicos que regem as ações de
todos os seres vivos.
Segundo Baum (1994), todo o comportamento humano é
explicado a partir de uma história. Ou seja, diferente de outros tipos de
ciência que lidam com um evento imediato, a ciência do comportamento precisa de
fatores históricos para explicar um fenômeno atual. Na história do
comportamento, este passa por três níveis diferentes de seleção: a filogenética
(história evolutiva da espécie), a ontogenética (história única do indivíduo) e
a cultural (comportamentos compartilhados pelo grupo onde o indivíduo se
insere).
Para B. F Skinner (1953) o comportamento pode ser divido em
dois tipos de modelo explicativo: os paradigmas respondente e operante. As
principais fontes de inspiração para o autor foram o fisiologista animal russo
Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936), que trouxe contribuições para a elaboração
do princípio do condicionamento
respondente; e o psicólogo americano Edward Lee Thorndike (1874-1949), que
foi pioneiro no estudo da aprendizagem e contribuiu para a formulação do
conceito de condicionamento operante
(Schultz e Schultz, 1992).
Para a compreensão do comportamento respondente,
vale ressaltar, primeiramente, a sua origem no âmbito da filogenia. O ser
humano como organismo biológico, carrega desde o seu nascimento alguns
comportamentos inatos, como por exemplo, os movimentos de sucção da boca, a
dilatação ou contração da pupila, a respiração, os batimentos cardíacos e
outros. Esses comportamentos inatos são herdados de gerações passadas através
dos genes presentes no DNA das células humanas. Eles são selecionados de acordo
com a história filogenética do organismo, que por sua vez, prioriza comportamentos
adaptativos facilitadores da sobrevivência da espécie. Skinner (1953),
igualmente a outros cientistas, chama tais comportamentos de reflexos.
Pavlov em seus estudos sobre os comportamentos
reflexos, de maneira acidental, fez uma grande descoberta relacionada a tais
respostas. O cientista observou que seus sujeitos experimentais eram capazes de
aprender novos reflexos, diante de estímulos que anteriormente não eliciavam
nada (Skinner, 1953). Em seu experimento mais famoso, Pavlov observou que na
presença de um pedaço de carne, o comportamento de salivação era apresentado naturalmente
por um cachorro. Ao associar a apresentação da carne com o som de uma sineta, o
cientista percebeu que o som da sineta sozinho passou a eliciar o comportamento
de salivação, depois de inúmeras associações com os dois estímulos. Pavlov
então descobriu que os comportamentos reflexos poderiam ser aprendidos por associação. O autor
nomeou então o alimento como estímulo incondicionado (US), o som da sineta como
estímulo neutro (NS), a resposta de salivação como resposta incondicionada (UR)
e a resposta de salivação apresentada posteriormente na presença do som, como
resposta condicionada (CR). De acordo com os dados observados, Pavlov formulou
a premissa do condicionamento respondente, processo pelo qual um estímulo
neutro adquire funções similares as de um estímulo incondicionado através de
emparelhamentos sucessivos prévios (Skinner, 1953).
Outro trabalho de grande importância para a
elaboração dos princípios do comportamento foi o trabalho de E. L. Thorndike,
em 1898, ao estudar “A Lei do Efeito”. Esse autor realizou um experimento em
que um gato foi colocado dentro de um alçapão no qual só poderia sair se
abrisse uma porta. O gato, portanto, exibiu uma grande variedade de
comportamentos, os quais alguns foram bem sucedidos e outros não.
Dessa forma, Thorndike percebeu que ao colocar o
gato repetidas vezes dentro do compartimento, seu comportamento de abrir a
porta se estabelecia cada vez mais rápido, pois, era seguido sempre da abertura
da porta. A esse fenômeno, o qual o comportamento se estabelece de acordo com
suas conseqüências, Thorndike deu o nome de “Lei do Efeito”. Skinner (1953), chamou
de reforço a todas as conseqüências
que seguiam determinadas respostas e as fortaleciam depois de algumas
exposições repetidas. Para esse processo de “fortalecimento” da resposta,
Skinner deu o nome de condicionamento
operante.
Assim, os dados experimentais mostraram que o
comportamento produz consequências e que essas consequências podem afetar a
probabilidade do comportamento voltar a ocorrer. A partir de então, foi
possível compreender um pouco mais sobre como o comportamento das pessoas pode
ser modelado diferencialmente pelo ambiente em que se está inserido. Com um
potencial biológico prévio, o organismo é sensível ao seu meio ambiente, e se
adapta a este a medida que vai se expondo às consequências. Mais adiante,
veremos como esses princípios (p. ex. reforço, punição, extinção e etc.) agem
no organismo, diminuindo ou aumentando a probabilidade de suas respostas.
Além disso, o fator cultural é outro importante
modelador de comportamentos. Os seres humanos são criaturas extremamente
sociais, assim, aprendemos comportamentos ao observar outras pessoas em um
grupo. Ao sermos criados em determinada cultura, aprendemos a chamar certas
coisas ou eventos de bons e outros de maus. Lutamos por essas coisas, nos
empenhamos em certas atividades e a aprovação por nossos semelhantes é um fator
determinante na manutenção desses comportamentos. Porém, o que é bom ou mau não
é intrínseco ao evento, e sim algo determinado culturalmente, ou seja, dentro
de um grupo (Baum, 1994).
Por fim, sabemos que o comportamento humano é um
evento complexo, o qual demanda delicada observação. Diante da dificuldade de
mensuração, as pessoas tendem a inventar respostas para o que não vêem ou não
entendem, ou ainda preferem lidar com dados explicativos confusos. Ao estudar a
Análise do Comportamento, perceberemos que essas explicações de nada adiantam
para quem precisa lidar com problemas humanos reais, e que utilizar a ciência
pode ser uma postura mais prática e econômica de intervenção.
Por: Maíra Matos Costa
Por: Maíra Matos Costa
Referências Bibliográficas
Baum, W. M. (1999). Compreender o Behaviorismo: Ciência, Comportamento e Cultura. Porto Alegre. Ed: Artmed.
Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (2001). História da Psicologia Moderna. São
Paulo: Cultrix.
Skinner,
B. F. (1953). Ciência e Comportamento
Humano. São Paulo: Martins Fontes.
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